por Reginaldo Leme
Como é possível um carro que não tinha visto a luz do dia até o começo da semana mostrar-se tão veloz e confiável assim de cara ? O BGP 001 foi o modelo que despertou a maior curiosidade nesta semana no circuito de Montmeló, fechando os quatro dias de treinos não com um, mas com os dois melhores tempos – 1min18s926 de Barrichello e 1min19s127 de Button - e em dias diferentes. Deixou para trás Ferrari, BMW, Toyota, McLaren, Red Bull, Renault e Williams. E a ideia de blefe, que foi como as pessoas receberam a surpresa do primeiro dia, foi se dissolvendo na sequência dos treinos pela constância que o carro demonstrou tanto em simulação de corrida como nas voltas rápidas, evidentemente, feitas com pouca gasolina. Se a opinião de um bicampeão vale alguma coisa, é bom observar que, segundo Fernando Alonso, se qualquer carro ali presente tirasse toda a gasolina do tanque não conseguiria chegar no tempo que Rubinho e Button fizeram.Até os anos 80 não era tão raro uma equipe da turma do meio do grid para trás surpreender com um modelo tão bem nascido. Mas na F-1 atual só as grandes têm esse dom e, assim mesmo, de vez em quando - a McLaren de 1988, que ganhou 15 em 16 corridas; a Williams de 96, que ganhou 12 em 16; e as Ferrari de 2002, com 15 vitórias em 17, e 2004, com 15 em 18 corridas.Todo engenheiro diz que na concepção de um novo carro não existe mágica. E nem sorte. A primeira receita é não se meter a inventar demais, ou seja, trabalhar da forma mais convencional, de preferência baseado no que já estiver dando certo no carro anterior. Não é o caso da Honda, que não teve nada de bom em que se basear. Mas Ross Brawn tem as receitas na cabeça e, quando a mudança nas regras é radical como a de 2009, a interpretação criativa das regras ajuda muito. O fracasso absoluto de 2008 também ajudou. De cara os projetistas da então Honda perceberam que o RA108 não ia dar em nada e, desde maio, começaram a trabalhar na concepção desse novo carro, que acabou ganhando o nome Brawn. Ele tinha sido concebido para o motor Honda e acabou recebendo o motor Mercedes-Benz, o que, certamente, trouxe algumas dores de cabeça a mais. Mas os pilotos dizem que o Mercedes deu muito certo no conjunto.Aparecer bem na mídia é importante para a Brawn, ainda sem patrocínio e começando o campeonato graças ao adiantamento dos US$ 50 milhões que a Fota deve à Honda pela participação no Mundial de 2008. Mas a equipe garante que o carro nunca entrou na pista sem estar 100% dentro da legalidade e, pelo lado técnico, tinha de ser mesmo assim para eles próprios avaliarem em que nível estão. Agora é esperar a última série de treinos, a partir de domingo em Jerez. O resumo do que vimos até agora mostra a Ferrari muito bem, a Toyota mais forte do que nunca esteve, a BMW e a Red Bull competitivas, a Renault abaixo do que Alonso esperava e a McLaren com sérios problemas. A Williams andou bem em Barcelona, mas com um difusor sob suspeita, assim como o da Toyota. O certo é que, em 2009, com treinos apenas em fim de semana de GP, um carro que tenha nascido bem pode fazer sucesso. Que venha Jerez de la Frontera!